Conheça o setor construção e engenharia

Confira os detalhes do setor construção e engenharia

Escrito por:

Marjoel Moreira

As construtoras e incorporadoras se diferenciam em uma série de aspectos. Por exemplo, a diferença regional, o que influencia nos preços e nas classes de imóveis construídos, e a diferença de público-alvo filtrado, principalmente, pelo nível de renda. 

Existem tanto empresas com foco em clientes de alta renda quanto empresas com foco em clientes de menor renda. A partir disso, o porte dos imóveis a serem construídos varia conforme o foco da empresa, assim como a partir da região em que as mesmas desejam construir novos imóveis. Vale destacar que, principalmente no segmento de baixa renda, diversas construtoras e incorporadoras possuem relações com programas habitacionais executados pelo Governo, ou seja, são envolvidas na construção de imóveis financiados através de programas governamentais de incentivo à habitação. 

Uma das características essenciais deste setor é a sua sensibilidade às mudanças na taxa básica de juros. No lado da demanda por imóveis, a demanda aumenta quando as taxas praticadas para financiamento imobiliário são menores, o que tem certa relação com diminuições na Taxa Selic, por se tratar de financiamentos de longo prazo e menor risco em relação ao cheque especial ou ao cartão de crédito. Já, no lado da oferta, as construtoras e incorporadoras tendem a iniciar novos projetos quando o patamar de juros para contraírem dívidas é menor.

O setor de construção e incorporação é, altamente, sensível às mudanças nas taxas de juros praticadas tanto aos consumidores quanto às companhias em si. Então, o setor possui uma alta correlação com os ciclos econômicos, ou seja, tende a ficar desaquecido em momentos de juros elevados e tende a se aquecer novamente em momentos de prosperidade e juros relativamente reduzidos. 

Além disso, vale destacar que existem empresas que não atuam com construção e incorporação diretamente, mas que se beneficiam em momentos de elevada demanda neste setor. Companhias que atuam no fornecimento de matérias-primas, insumos, acabamentos para imóveis, entre outros, se beneficiam fortemente de um setor de construção e incorporação aquecido, pois auferem aumentos de demanda por seus produtos e serviços, e consequentemente maiores lucros. 

Empresas listadas no setor

Na B3, existem dezenas de empresas inseridas no setor de construção e engenharia, de modo em que não é viável abordar, especificamente, todas elas de maneira resumida. A principal diferenciação entre tais companhias é o tipo de imóvel que constroem:

  • Tanto residenciais quanto comerciais/corporativos;
  • Voltados para clientes de baixa, média ou alta renda;
  • Diferenciação regional.

Como exemplo de companhias que possuem relações com programas habitacionais do Governo, podemos citar tanto a MRV (MRVE3) quanto a Tenda (TEND3). Apesar de haver outras companhias com foco no segmento de baixa renda e com relações a programas governamentais, ambas as companhias possuíam relações com o programa “Minha Casa Minha Vida” e, posteriormente, é possível que preservem relações com programas governamentais a partir do novo programa “Casa Verde e Amarela”, implementado pela gestão do presidente Jair Bolsonaro. 

Dentre as companhias mencionadas anteriormente, é interessante pontuar que elas se diferenciam não somente pelo aspecto de renda de seus clientes. Dada a amplitude de companhias de incorporação e construção listadas em bolsa de valores, é importante ter a noção de que essa diversidade de empresas atua com diferentes estratégias, em múltiplas localidades e, consequentemente, possuem as mais variadas rentabilidades, desde lucros consistentes até mesmo a prejuízos recorrentes, dependendo da empresa em questão. 

Como exemplo de empresa que se beneficia do setor de construção estar aquecido, se tem a Portobello (PTBL3). Dado que a companhia atua tanto com a venda de insumos para construção (madeira, concreto, cerâmica, argila, entre outros) e com a venda de acessórios para o lar, quando o setor de construção está aquecido, a Portobello tende a trazer melhores resultados, em conjunto às construtoras e incorporadoras. 

Vale destacar que a Portobello não é limitada ao Brasil em seus negócios e possui uma presença mundial, de modo em que pode aproveitar o aquecimento do setor imobiliário nos outros países nos quais atua, caso o mercado brasileiro encontra-se desaquecido. 

Riscos do investimento em construtoras e incorporadoras 

O principal risco ao investir nessas empresas é de mudanças na conjuntura macroeconômica, ou seja, no cenário da macroeconomia nacional. 

Ao abordar o cenário macroeconômico, o principal componente ao qual o investidor deve se atentar, tanto no presente quanto no futuro, para decidir entre investir em uma companhia construtora/incorporadora é o nível de juros atual e o nível de juros esperado para os anos que se seguem (DI Futuro). 

O acompanhamento do nível em que se encontra a taxa de juros é, altamente, relevante para o investimento em firmas deste setor, pois os juros possuem impacto significativo nos resultados das empresas. Isso se deve ao fato de que, em períodos de juros menores, as construtoras se endividam, geralmente um endividamento pós-fixado, em prol de inicial novos projetos. Logo, mediante à alta de juros, o custo da dívida de tais firmas aumenta e, caso não haja venda dos imóveis conforme o planejado, a empresa em questão pode incorrer em problemas financeiros. 

Enquanto os juros influenciam também a decisão do consumidor. Uma vez que diversos consumidores optam por financiar os imóveis, os juros praticados nos financiamentos imobiliários impactam diretamente a decisão sobre a aquisição de um imóvel. Isso pode impactar tanto positivamente quanto negativamente a demanda pelos imóveis recém-construídos. 

Com base no fato de que tais empresas possuem sua lucratividade atrelada aos ciclos econômicos, em diversos casos as companhias do setor de construção possuem gargalos em gerar lucros constantes e recorrentes, assim como muitas apresentam dificuldades em apresentar lucros crescentes ao longo dos anos. 

O investidor que possui o objetivo de auferir lucros através de dividendos constantes ao longo dos anos deve atentar-se ao fato de que tais empresas possuem grande dependência sobre o nível de taxas de juros e sobre o aquecimento do mercado imobiliário. Portanto, a lucratividade a ser distribuída aos acionistas dependerá do desempenho da empresa e de seu posicionamento no mercado em momentos favoráveis ao seu setor. 

Outro fator preocupante às companhias com gargalos de lucratividade é a inflação. Afinal, caso algumas companhias não performem um crescimento em seus lucros nominais (em R$) ao longo dos anos, o lucro real (corrigido por índices inflacionários), consequentemente, decresce. Dessa forma, a inflação pode prejudicar o retorno ao acionista caso as construtoras / incorporadoras encontrem dificuldades significativas em vender seu estoque de imóveis ou caso as mesmas percam o timing do mercado e iniciem projetos em momentos macroeconômicos desfavoráveis.